quarta-feira, 26 de outubro de 2016

PUEDO ESCRIBIR LOS VERSOS MÁS TRISTES ESTA NOCHE, de Pablo Neruda

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Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Escribir, por ejemplo: "La noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos."
El viento de la noche gira en el cielo y canta.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.
En las noches como esta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.
Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.
Oir la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.
Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche esta estrellada y ella no está conmigo.
Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.
Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.
La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.
Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.
De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.
Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.
Porque en noches como esta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.
Aunque este sea el ultimo dolor que ella me causa,
y estos sean los ultimos versos que yo le escribo.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

AS MULHERES SÃO MAIS FORTES, de José Saramago, in 'L'Orient le Jour (2007)'

Para começar, gosto das mulheres. Acho que elas são mais fortes, mais sensíveis e que têm mais bom senso que os homens. Nem todas as mulheres do mundo são assim, mas digamos que é mais fácil encontrar qualidades humanas nelas do que no gênero masculino. Todos os poderes políticos, econômicos, militares são assuntos de homens. Durante séculos, a mulher teve de pedir autorização ao seu marido ou ao seu pai para fazer fosse o que fosse. Como é que pudemos viver assim tanto tempo condenando metade da humanidade à subordinação e à humilhação? 


José Saramago, in 'L'Orient le Jour (2007)' 

A REGRA FUNDAMENTAL DE VIDA, de José Saramago, in "Revista Diário da Madeira, Junho 1994"

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Quando nós dizemos o bem, ou o mal... há uma série de pequenos satélites desses grandes planetas, e que são a pequena bondade, a pequena maldade, a pequena inveja, a pequena dedicação... No fundo é disso que se faz a vida das pessoas, ou seja, de fraquezas, de debilidades... Por outro lado, para as pessoas para quem isto tem alguma importância, é importante ter como regra fundamental de vida não fazer mal a outrem. A partir do momento em que tenhamos a preocupação de respeitar esta simples regra de convivência humana, não vale a pena perdermo-nos em grandes filosofias sobre o bem e sobre o mal. «Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti» parece um ponto de vista egoísta, mas é o único do gênero por onde se chega não ao egoísmo mas à relação humana.



quinta-feira, 13 de outubro de 2016

O MUNDO ANDA BRUTO, por Si Schurhaus


O mundo anda bruto, vergonhosamente bruto.
Estamos precisando de felicidade, pelo menos um pouco.

O planeta anda com fome de amor, alegria, esperança, carinho…
Os seres sentem falta de estarem ligados pelos abraços, beijos
(como é bom beijar e ser beijada), precisamos de atenção, delicadezas, sutilezas, andar de mãos dadas, dançar uma música romântica no corredor do supermercado.
Estamos precisando de educação, obrigados, por favores, com licenças. Cadê aquela menina que tinha paciência de ouvir as histórias do avô?
Os momentos mágicos onde a família era muito importante?
Compartilhar momentos como batizados, ou confraternizações familiares. Estamos cada vez mais sozinhos,distantes, sós, mas sempre buscando a felicidade.
Estamos carentes, precisamos de aconchego, de um ombro para chorar, de um colo para descansar.

Percebo que cada dia estamos nos distanciando, nos isolando dos seres que nos dão calor, o calor humano.
Não nascemos para ficar só, vamos partilhar afetos, ilusões, sonhos, viagens, alegrias, sucessos…
Eu quero sempre o colo que tenho todas as noites para dormir, creio sim que todos nos queremos.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

COMO REMENDAR UM CORAÇÃO PARTIDO, por Eberth Vêncio

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Em cada canto do mundo, em cada peito, um coração partido. Isso sempre acaba em música ou poesia, jamais em pizza. Por exemplo, no jardim de Versailles, o cravo brigou com a rosa, e aquela coisa toda. O resto da história vocês conhecem: o cravo ficou ferido; a rosa, despedaçada. Numa tourada em Madrid, uma madrilena de tetas monumentais mandou que eu fosse pastar, então, eu fui, sem conseguir arrastá-la para um banho refrescante na Fontana di Trevi, em Roma. Enquanto eu pastava triste por uma savana africana, avistei uma tigresa de unhas negras, de penteado bacana, que calçava Havaianas para pisar o coração de um homem branco de medo. O desamor afeta-nos a todos, sem qualquer preconceito.

No alto do Himalaia, o ar rarefeito fez com que um sujeito da mesma laia variasse, perdesse os sentidos quando buscava um novo sentido para a vida, depois de ser informado que a sua amada morrera de tanto gozar nos braços de outro alguém, ao nível do mar. E por falar em amar, um pescador de marlins azuis atirou n’água uma isca marrom, feita com tripas de coração, mas, ele sim acabou fisgado, arpoado pela flecha de um cupido que pescava homens no oceano. Entra ano, sai ano, alguém sempre se encanta e se estrepa com os cantos de uma sereia. Foi encontrado morto de amor, com a tanga cheia de areia, numa praia em Ibiza.

Não importa a paisagem. Tristeza não carimba passaporte. No Japão, no Jalapão, na República do Gabão, tanto faz, há sempre algum sentimento amável escorrendo dentro de veias tortas até eclodir um coração partido. Nos Estados Unidos, o índice de separados não para de crescer. A intolerância racial também cresce, mas, isso não é assunto pra agora, isso é outro dilema.

Na Cordilheira dos Andes, uma ginasta chilena especializada em polichinelos e sexo com estranhos (leia-se “esquisitos”), estilo “corpão de avião” (é o que os homens sempre dizem) tombou caidinha por mim (sim, sou estranho). As buscas por afetos escondidos nos destroços da cama (e outros troços inexplicáveis) começaram logo às primeiras horas do dia, durante o desjejum, num aconchegante quarto de hotel. Famintos de tesão, comemos as carnes um do outro, feito pastel, até que nos sentíssemos saciados o bastante para vestir a roupa que estava sobre a estante e dar um beijo de “Até qualquer dia” com gosto de fel.

Fazer o quê? Encontros e desencontros são coisas que acontecem, vocês sabem. Ou vão me dizer que são bem amados todo santo dia? O que vale é a intenção. Foi pensando assim que, na Alemanha, um neonazista foi atirado numa piscina de banha pelos comparsas embriagados durante uma Oktoberfest, após descobrirem que o nórdico fascista se apaixonara pelo penne carbonara que um italiano naturalizado terráqueo (o chef napolitano — disseram — não era desse mundo) cozinhara para ele.

Na Rússia, na Prússia, na Bielorrússia, até nas orações de alcova da Irmã Lúcia, tem sempre alguém buscando ser feliz com a ajuda de terceiros. Aquela história de se apaixonar, de se unir a alguém, de acasalar, quem sabe, produzir filhos e viver feliz para sempre, não sei se isso é amor ou se é instinto de sobrevivência da espécie humana. De novo, a velha ladainha bíblica de crescermos e nos multiplicarmos, sabem como é?

A infelicidade não para. Os deslizes, da mesma forma, não cessam por aqui. Assim como a informação, a inflamação e o herpes, a desilusão amorosa está globalizada, é uma praga tão cosmopolita quanto a fé. Como remendar um coração partido? Não sei dizer. Nem ouvindo uma velha balada dos Bee Gees, eu saberia lhes responder. Quem são os Bee Gees? Ah… Esquece.