sexta-feira, 27 de novembro de 2015

NAMORE UMA MULHER LIVRE, por Hudson Baroni

Se tivesse que dar só um conselho seria esse: namore uma mulher livre.
Por quê? Eu explico.

Quando digo livre quero dizer literalmente sem amarras.
Sem algo que a prenda, ou seja, sem medo de viver.

Uma mulher livre tem personalidade.
Ela tem seus próprios gostos, seus sonhos, não se pauta pelos outros.
Tem opinião própria, sabe pensar por si só.
É independente, e sabe dar espaço e quer ter o seu próprio.

Vejo mulher livre como aquela mulher que sente que pode fazer o que quiser, porque pode.
Que não é fresca, é disposta a qualquer coisa.
Que sabe se cuidar e não precisa de você, mas que quer ser cuidada mesmo assim e vai cuidar de você de volta.

Porque uma mulher livre é uma mulher que tira o melhor da vida.
E isso contagia.

Namore essa mulher que você pode igualmente admirar e criticar.
Que você possa beber um café de manhã e uma cerveja de noite.
Que você possa mostrar um vídeo bobo ou um artigo inteligente.
Alguém que seja tão livre que te deixa livre também para você ser você mesmo.

Mulheres livres chamam a atenção.
São inevitáveis como um relâmpago: você não resiste olhar para o clarão.
E não é a aparência, não é só a aparência.
É uma aura diferente. Transparece no sorriso.
E te convence na primeira troca de palavras.
A gente não sabe explicar mas percebe quando encontra uma.
Mulheres livres são inevitáveis.

E por mais que você tente resistir: se ela quiser, ela tem.
Parece que as coisas sempre se alinham para dar certo pra ela, no final das contas.

Ela é um dos dois: ou ela vai te conquistar ou te intimidar.
Principalmente se você for do tipo que gosta de manter uma mulher submissa ou sob sua sombra.

Se você tentar sufocá-la você tá perdido!
Mulher assim não é do tipo que você coloca na estante pra ficar olhando.
E muito menos é do tipo que você pode ficar cozinhando, nem tenta.
Com ela é ou não é.
E se não for pra ser, quando menos esperar verá ela escapando pelos seus dedos.

Em resumo.
Namore essa mulher que, no final das contas, não é sua. Ela é dela!
Ela é um espírito livre. Ela é completamente dela.
E se ela entrega algumas partes pra você… Que sorte a sua!

TUDO QUE VAI, de Dado Villa-Lobos, Alvin L. e Tony Platão



Hoje é o dia

Eu quase posso tocar o silêncio
A casa vazia
Só as coisas que você não quis
Me fazem companhia
Eu fico à vontade com a sua ausência
Eu já me acostumei a esquecer


Tudo que vai
Deixa o gosto, deixa as fotos
Quanto tempo faz
Deixa os dedos, deixa a memória
Eu nem me lembro mais


Salas e quartos
Somem sem deixar vestígio
Seu rosto em pedaços
Misturado com o que não sobrou
Do que eu sentia
Eu lembro dos filmes que eu nunca vi
Passando sem parar
Em algum lugar.


Tudo que vai
Deixa o gosto, deixa as fotos
Quanto tempo faz
Deixa os dedos, deixa a memória
Eu nem me lembro mais


Fica o gosto, ficam as fotos
Quanto tempo faz
Ficam os dedos, fica a memória
Eu nem me lembro mais


Quanto tempo, eu já nem sei mais o que é meu
Nem quando, nem onde


Tudo que vai
Deixa o gosto, deixam as fotos
Quanto tempo faz
Deixam os dedos, deixa a memória
Eu nem me lembro mais
Fica o gosto, ficam as fotos
Quanto tempo faz
Ficam os dedos, fica a memória
Eu nem me lembro mais


quinta-feira, 26 de novembro de 2015

POEMA EM LINHA RETA. de Fernando Pessoa

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado
[sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

FOTOGRAFIA, tradução da música PHOTOGRAPH, de Ed Sheeran


Amar PODE fazedor

Amar PODE doer as vezes
Mas è um Única Coisa Que Eu sei
QUANDO FICA Difícil
Rápido Você SABE Que PODE Ficar Difícil as vezes
E a Única Coisa Que nsa mantém vivos


O Nós mantemos este amor NUMA FOTOGRAFIA
O Nós fizemos estas Memórias parágrafo NÓS mesmos
Onde NOSSOS Olhos Nunca fecham
NOSSOS Corações Nunca estiveram Partidos
E o ritmo ESTÁ congelado parágrafo sempre


Entao rápido Você pode me guardar nenhum bolso
Seu calça jeans rasgado fazer
Me abraçando Perto Até NOSSOS Olhos se encontrarem
Rápido Você Nunca eStara Sozinha
Espere por volta parágrafo Minha Casa


Amar PODE Curar
Amar PODE remendar SUA alma
Ê ê um Única Coisa Que Eu sei
Eu Juro que FICA Mais Fácil
LEMBRE-SE Disso em Cada Pedaço Seu
Ê ê um Única Coisa Que levamos Conosco when morremos


O Nós mantemos este amor NUMA FOTOGRAFIA
O Nós fizemos estas Memórias parágrafo NÓS mesmos
Onde NOSSOS Olhos Nunca fecham
NOSSOS Corações Nunca estiveram Partidos
E o ritmo ESTÁ congelado parágrafo sempre


Entao rápido Você pode me guardar nenhum bolso
Seu calça jeans rasgado fazer
Me abraçando Perto Até NOSSOS Olhos se encontrarem
Rápido Você Nunca eStara Sozinha
E se Você Me Machucar, tudo bem querida
APENAS como Palavras Sangram
Dentro destas Páginas, me APENAS ABRACE
E eu nunca te deixarei ir
Espere por volta parágrafo Minha Casa


É Você poderia me Colocar
Dentro Deste colar that rápido você usou
QUANDO tinha 16 ano
Perto do Seu Coração Onde Deveria Estar
Mantenha ISSO nenhuma Fundo de SUA alma


E se Você Me Machucar
Mas ESTÁ tudo bem, querida
APENAS como Palavras Sangram
Dentro destas Páginas, me APENAS ABRACE
E eu nunca te deixarei ir


QUANDO eu estiver longe
Me lembrarei de Como Você Me beijava
Embaixo do poste de luz da 6ª rua
Ouvindo rápido você sussurrar Pelo Telefone
Espere por volta parágrafo Minha Casa



sábado, 21 de novembro de 2015

AOS OLHOS DELE, de Florbela Espanca


Não acredito em nada. As minhas crenças
Voaram como voa a pomba mansa;
Pelo azul do ar. E assim fugiram
As minhas doces crenças de criança.

Fiquei então sem fé; e a toda a gente
Eu digo sempre, embora magoada:
Não acredito em Deus e a Virgem Santa
É uma ilusão apenas e mais nada!

Mas avisto os teus olhos, meu amor,
Duma luz suavíssima de dor…
E grito então ao ver esses dois céus:

Eu creio, sim, eu creio na Virgem Santa
Que criou esse brilho que m’encanta!
Eu creio, sim, creio, eu creio em Deus!

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO, de Carlos Drummond de Andrade


Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

RESPEITE A VOCÊ MAIS DO QUE OS OUTROS, por Clarice Lispector

Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. (...) Nem sei como lhe explicar minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até um certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. (...) Pretendia apenas lhe contar o meu novo carácter, ou falta de carácter. (...) Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi? Assim fiquei eu... em que pese a dura comparação... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante. (...) Uma amiga, um dia desses, encheu-se de coragem, como ela disse, e me perguntou: você era muito diferente, não era? Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora se disse: ou essa calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa disse que eu me movo com lassidão de mulher de cinquenta anos. (...) o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que se esqueceu de que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado. Ouça: respeite a você mais do que aos outros, respeite suas exigências, respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você - pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver. 

Clarice Lispector, in 'Carta a Tânia [irmã de Clarice] (1947)'

terça-feira, 17 de novembro de 2015

VAIDADE, de Florbela Espanca


                                          A um grande poeta de Portugal

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade !


Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo ! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade !
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita !


Sonho que sou Alguém cá neste mundo ...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada !


E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ...


Livro de mágoas (1919)

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

JÁ NÃO ME IMPORTO, de Fernando Pessoa

Já não me importo 
Até com o que amo ou creio amar. 
Sou um navio que chegou a um porto 
E cujo movimento é ali estar. 

Nada me resta 
Do que quis ou achei. 
Cheguei da festa 
Como fui para lá ou ainda irei 

Indiferente 
A quem sou ou suponho que mal sou, 

Fito a gente 
Que me rodeia e sempre rodeou,
 
Com um olhar 
Que, sem o poder ver, 
Sei que é sem ar 
De olhar a valer. 

E só me não cansa 
O que a brisa me traz 
De súbita mudança 
No que nada me faz.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O LUAR, de Mário Quintana


O luar,
é a luz do Sol que está sonhando



O tempo não pára!
A saudade é que faz as coisas pararem no tempo...



...os verdadeiros versos não são para embalar, 
mas para abalar...



A grande tristeza dos rios é não poderem levar a tua imagem...

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

TU ERAS TAMBÉM UMA PEQUENA FOLHA, de Pablo Neruda

Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O JEITO É CONTINUAR, extraído da coluna VIA MACHO

“A gente sempre destrói aquilo que mais ama,/em campo aberto ou numa emboscada;/uns com a leveza do carinho,/outros com a dureza da palavra;/os covardes destroem com um beijo,/os valentes com uma espada.” Estes versos são um trecho da Balada do Cárcere, de Oscar Wilde, e me fazem pensar. Talvez não exista mesmo uma relação totalmente saudável, talvez a felicidade seja só mesmo um espasmo isolado na rotina…

Desculpe meu ceticismo, senhoras e senhores, mas esta semana não serei o sensível macho anjo do amor, não tenho motivos para tentar encarnar o papel de portador da eterna esperança. De um jeito ou de outro, Wilde estava certo. A gente sempre destrói aquilo que mais ama. Não importa o que a gente faça, nenhuma relação acaba bem. Vítimas do tempo, reféns de nós mesmos, filhos de uma insensibilidade anestesiante, um egoísmo cheio de sorrisos, a humanidade ainda não descobriu uma maneira de fazer todo mundo feliz.

Atenção demais e atenção de menos falharam como soluções. Trate alguém bem demais e você estará escrevendo seu próprio fim. Estamos fadados a viver renascendo das cinzas, feito a lenda da Fênix, que constrói seu ninho com folhas secas onde o sol bate mais forte, e lá espera seu leito se incendiar. A lenda diz que a Fênix renasce, mas nossos peitos estão mais para capim colonião, renitentes e fracos.

Amigos, amantes, quem mais puder chegar perto…sempre sai um ferido. Vence este jogo quem tem o coração teimoso ou aquele com uma memória rasa feito os olhos cheios d’ água de uma despedida trágica. Começar de novo é uma arte. Não endurecer o peito é um desafio. Cansamos de entregar o peito às pessoas erradas. Cansamos de apanhar tentando sermos amados. Mendigos de um mundo girando em outros umbigos. Todos já nos satisfizemos com menos, todos já cometemos erros pensados, por não querermos estar sós. Ainda bem que nossos relacionamentos acabados não são marcas nas paredes de nossas celas diárias. Machucamos e somos massacrados. Só não podemos desistir de viver.

Belo discurso esse que o povo empunha, que deve se manter o peito aberto. Linda essa falsa vontade das mulheres quererem um romance de verdade. Nós, machos, somos sempre os culpados. Amor traz responsabilidade, e isso ninguém quer. O livro preferido de qualquer candidata a miss, O Pequeno Príncipe, nos ensina que somos responsáveis pelo que cativamos. Ninguém quer mais ser responsável. Ninguém precisava levar isso tão a sério a ponto de criar essa legião de solitários. Onde foi parar a chance de sermos mesmo conquistados?

Todos temos fantasmas, todos temos alguém cravado no peito, uma lembrança que seja. Todos já esperamos um telefonema que nunca veio, um e-mail que nunca foi escrito, uma carta que nunca foi mandada. Quem não se encaixa nisso, sim, que me atire a primeira pedra. Temos que escolher o que esquecer nesse jogo. As pessoas que não soubemos amar de volta, os amores que construímos sozinhos com areia. Todos dizem querer alguém, mas quem realmente quer uma relação de verdade?

Milhões de drinques serão virados pensando silenciosamente em alguém que não me soube. Encharquei meu coração seco milhares de vezes. Nunca foi solução. O melhor amigo que não soube ser o melhor de volta. A paixão que nunca nos correspondeu. O amor que expirou no mesmo dia que o leite de caixinha que azeda na sua geladeira. Somos mestres em abraçar esse ceticismo, em lutarmos para não acreditar mais em promessas – mais do que nunca descartáveis. A solução parece simples.

Todo macho tem seu período de celibato, de renúncia ao sexo oposto. Chega de montanha-russa. As mulheres são confusas demais…O coração masculino entra em menos brigas porque sabe que apanha fácil. Será que é seguro abrir o peito aos canhões (não no sentido figurado!!!)? As mulheres têm esse talento de transformar cachorrões (canalhas) em cachorrinhos encoleirados, bobos com sua transitória diversão. Talvez sirvamos mesmo pra alguma coisa. Mas a volta de cachorrinho atropelado para cachorrão distante é mais rápida ainda…

Somos todos só capítulos, quando muito, na vida de alguém. Quem acha que pode ser parágrafo que se cuide para não ser só uma rima. A página vira você querendo ou não. E nem sempre seu nome aparece na próxima. O ceticismo masculino, nosso suposto medo de nos envolver faz fama girando o mundo, fruto da inconstância da mulher. Ela ora quer, ora não quer ser parte da nossa vida. Escolhemos mulheres erradas, devemos admitir. Mulheres também escolhem os homens errados, e os fígados dos machos de verdade é que acabam pagando a conta.

Já construí e derrubei milhões de muros em torno do meu peito. Já estabeleci distância regulamentar para que ninguém chegasse muito perto, mas de tempos em tempos aparece uma cretina que seduz os guardas da razão, que tira minha atenção, me tira o foco e passa por cima do meu coração. Admito que umas até me tratam bem por um tempo…

Corações quebrados nunca mais batem no mesmo tom. Demora para um macho aprender a andar com sua dor. A gente acaba entrando nesse jogo, parecendo ser quem manda. Relações descartáveis recheiam nossos bolsos vazios de amor. Não lembro o nome de quinhentas mulheres, mas não consigo esquecer as pintas e o sorriso de uma. Melhor mesmo vestir nossa armadura de papel, melhor mesmo é levantar a cabeça, deixar o que sobrou do peito no freezer. Ninguém fica na defensiva para fazer tipo.

Macho que é macho só gera conteúdo para revistas femininas, no papel de sujeito que não quer se envolver, porque a intuição feminina parou de nos sentir de verdade há séculos.

Sempre existirão os lobos cínicos de plantão prontos para fazer um estrago com toda e qualquer mulher que cruzar seu caminho. Mas nem toda chapeuzinho vermelho precisava sempre ser uma caçadora armada defensivamente até os dentes.

Agora, me dêem licença porque em algum lugar desse planetinha errado tem alguém querendo brincar com o novo resto do meu coração…e, por um tempo, eu vou adorar…

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

ACEITARÁS O AMOR COMO EU O ENCARO?..., de Mário de Andrade

Aceitarás o amor como eu o encaro ?...
...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.

Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.

Não exijas mais nada.
Não desejo Também mais nada,
só te olhar, enquanto A realidade é simples,
e isto apenas.

Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições.
O encanto que nasce das adorações serenas.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

O IMPOSSÍVEL CARINHO, de Manuel Bandeira

Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

PRANTO PARA COMOVER JONATHAN, de Adélia Prado

Os diamantes são indestrutíveis?
Mais é meu amor.
O mar é imenso?
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos
do que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançado
do que a onda batendo no rochedo,
mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais o que ama.


terça-feira, 3 de novembro de 2015

OS POEMAS, de Mário Quintana

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…


(Publicado originalmente no livro Esconderijos do Tempo, retirado de Poesia Completa – Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005, p. 469)