segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O JEITO É CONTINUAR, extraído da coluna VIA MACHO

“A gente sempre destrói aquilo que mais ama,/em campo aberto ou numa emboscada;/uns com a leveza do carinho,/outros com a dureza da palavra;/os covardes destroem com um beijo,/os valentes com uma espada.” Estes versos são um trecho da Balada do Cárcere, de Oscar Wilde, e me fazem pensar. Talvez não exista mesmo uma relação totalmente saudável, talvez a felicidade seja só mesmo um espasmo isolado na rotina…

Desculpe meu ceticismo, senhoras e senhores, mas esta semana não serei o sensível macho anjo do amor, não tenho motivos para tentar encarnar o papel de portador da eterna esperança. De um jeito ou de outro, Wilde estava certo. A gente sempre destrói aquilo que mais ama. Não importa o que a gente faça, nenhuma relação acaba bem. Vítimas do tempo, reféns de nós mesmos, filhos de uma insensibilidade anestesiante, um egoísmo cheio de sorrisos, a humanidade ainda não descobriu uma maneira de fazer todo mundo feliz.

Atenção demais e atenção de menos falharam como soluções. Trate alguém bem demais e você estará escrevendo seu próprio fim. Estamos fadados a viver renascendo das cinzas, feito a lenda da Fênix, que constrói seu ninho com folhas secas onde o sol bate mais forte, e lá espera seu leito se incendiar. A lenda diz que a Fênix renasce, mas nossos peitos estão mais para capim colonião, renitentes e fracos.

Amigos, amantes, quem mais puder chegar perto…sempre sai um ferido. Vence este jogo quem tem o coração teimoso ou aquele com uma memória rasa feito os olhos cheios d’ água de uma despedida trágica. Começar de novo é uma arte. Não endurecer o peito é um desafio. Cansamos de entregar o peito às pessoas erradas. Cansamos de apanhar tentando sermos amados. Mendigos de um mundo girando em outros umbigos. Todos já nos satisfizemos com menos, todos já cometemos erros pensados, por não querermos estar sós. Ainda bem que nossos relacionamentos acabados não são marcas nas paredes de nossas celas diárias. Machucamos e somos massacrados. Só não podemos desistir de viver.

Belo discurso esse que o povo empunha, que deve se manter o peito aberto. Linda essa falsa vontade das mulheres quererem um romance de verdade. Nós, machos, somos sempre os culpados. Amor traz responsabilidade, e isso ninguém quer. O livro preferido de qualquer candidata a miss, O Pequeno Príncipe, nos ensina que somos responsáveis pelo que cativamos. Ninguém quer mais ser responsável. Ninguém precisava levar isso tão a sério a ponto de criar essa legião de solitários. Onde foi parar a chance de sermos mesmo conquistados?

Todos temos fantasmas, todos temos alguém cravado no peito, uma lembrança que seja. Todos já esperamos um telefonema que nunca veio, um e-mail que nunca foi escrito, uma carta que nunca foi mandada. Quem não se encaixa nisso, sim, que me atire a primeira pedra. Temos que escolher o que esquecer nesse jogo. As pessoas que não soubemos amar de volta, os amores que construímos sozinhos com areia. Todos dizem querer alguém, mas quem realmente quer uma relação de verdade?

Milhões de drinques serão virados pensando silenciosamente em alguém que não me soube. Encharquei meu coração seco milhares de vezes. Nunca foi solução. O melhor amigo que não soube ser o melhor de volta. A paixão que nunca nos correspondeu. O amor que expirou no mesmo dia que o leite de caixinha que azeda na sua geladeira. Somos mestres em abraçar esse ceticismo, em lutarmos para não acreditar mais em promessas – mais do que nunca descartáveis. A solução parece simples.

Todo macho tem seu período de celibato, de renúncia ao sexo oposto. Chega de montanha-russa. As mulheres são confusas demais…O coração masculino entra em menos brigas porque sabe que apanha fácil. Será que é seguro abrir o peito aos canhões (não no sentido figurado!!!)? As mulheres têm esse talento de transformar cachorrões (canalhas) em cachorrinhos encoleirados, bobos com sua transitória diversão. Talvez sirvamos mesmo pra alguma coisa. Mas a volta de cachorrinho atropelado para cachorrão distante é mais rápida ainda…

Somos todos só capítulos, quando muito, na vida de alguém. Quem acha que pode ser parágrafo que se cuide para não ser só uma rima. A página vira você querendo ou não. E nem sempre seu nome aparece na próxima. O ceticismo masculino, nosso suposto medo de nos envolver faz fama girando o mundo, fruto da inconstância da mulher. Ela ora quer, ora não quer ser parte da nossa vida. Escolhemos mulheres erradas, devemos admitir. Mulheres também escolhem os homens errados, e os fígados dos machos de verdade é que acabam pagando a conta.

Já construí e derrubei milhões de muros em torno do meu peito. Já estabeleci distância regulamentar para que ninguém chegasse muito perto, mas de tempos em tempos aparece uma cretina que seduz os guardas da razão, que tira minha atenção, me tira o foco e passa por cima do meu coração. Admito que umas até me tratam bem por um tempo…

Corações quebrados nunca mais batem no mesmo tom. Demora para um macho aprender a andar com sua dor. A gente acaba entrando nesse jogo, parecendo ser quem manda. Relações descartáveis recheiam nossos bolsos vazios de amor. Não lembro o nome de quinhentas mulheres, mas não consigo esquecer as pintas e o sorriso de uma. Melhor mesmo vestir nossa armadura de papel, melhor mesmo é levantar a cabeça, deixar o que sobrou do peito no freezer. Ninguém fica na defensiva para fazer tipo.

Macho que é macho só gera conteúdo para revistas femininas, no papel de sujeito que não quer se envolver, porque a intuição feminina parou de nos sentir de verdade há séculos.

Sempre existirão os lobos cínicos de plantão prontos para fazer um estrago com toda e qualquer mulher que cruzar seu caminho. Mas nem toda chapeuzinho vermelho precisava sempre ser uma caçadora armada defensivamente até os dentes.

Agora, me dêem licença porque em algum lugar desse planetinha errado tem alguém querendo brincar com o novo resto do meu coração…e, por um tempo, eu vou adorar…

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