quarta-feira, 13 de abril de 2016

ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE, por Margarida Rebelo Pinto

"Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa", diz-me há muitos anos uma amiga advogada, daquelas que gosta de ir à Barra e de lutar até à morte quando tem a lei do seu lado e a razão também. Lembro-me muitas vezes desta frase porque é assim como a massa de vidraceiro e o purê de batata, dá mais ou menos para tudo. Voltando ao infinito tema do amor versus sexo: é de notável relevância a aplicação da mesma, porque de fato, o amor é uma coisa e o sexo é outra.

O melhor texto que já li sobre "Descubra as Diferenças" quantos aos supracitados temas é do Arnaldo Jabor. A Rita Lee, que também é sábia, fez uma música com a letra retirada do mesmo texto, intitulada ‘Amor e Sexo’. Ora tal texto e tal música revelam-se muito úteis para arrumar nas cabeças das donzelas dois mundos que nem sempre se cruzam na vida real, embora o universo feminino goste de pensar que sim. Sou a primeira a professar que os homens amam aquilo que desejam e as mulheres desejam aquilo que amam, mas atenção porque isto não exclui todas as outras variáveis: um homem pode desejar loucamente uma mulher sem a amar, pode amá-la sem a desejar, e as mulheres podem amar os seus maridos e no entanto, com o passar dos anos e a acidez da rotina, estar sujeitas e perder por eles o desejo. E se há quem o perca para sempre, também há quem o desvie para outros sujeitos, cujo objetivo é tão somente o de satisfazer o mesmo, mas com outro parceiro.

Não se choquem as leitoras mais pudicas em pensar que não existem apenas mulheres-objeto. Também há disso em forma de homem, embora com nuances um pouco diferentes, porque, para uma mulher, por mais despachada e desempoeirada que seja, tem de haver sempre um certo elo. Uma mulher precisa de uma razão, um homem precisa de um lugar. Uma mulher precisa sentir carinho, um homem precisa despachar o assunto. Uma mulher acaba sempre por fantasiar, nem que seja por um segundo, um homem nem pensa nisso.

Sempre existiram os namorados-enxuga, os amigos do peito, os ‘fuck-buddies’ de ocasião, tanto em vidas solteiras como em comprometidas ou casadas. O casamento não é à prova de bala nem à prova de nada. E há quem diga que para se ter um caso com uma pessoa casada, o melhor mesmo é também ser casado, porque assim jogam de igual para igual.

Sexo e amor não são a mesma coisa, mas volto a minha teoria que defendo como uma religião; se se encontrarem os dois na cama – o sexo e o amor – é como alcançar o nirvana sem sair do quarto. Amar alguém é bom, ter bom sexo com alguém é bestial, mas conseguir as duas coisas é "O Pleno". Todos sabemos que o ótimo é inimigo do bom e quando chegamos ao ótimo, nunca mais queremos sair de lá. É como quando se compra um casaco de caxemira; depois de o vestir durante uns dias, qualquer outro tipo de lã causa espécie sobre a nossa pele.

Quando o amor é muito e o sexo extraordinário, estamos sempre condenados, ou a ser estupidamente felizes, ou a sofrer de privação, tristeza, dores de cabeça, ansiedade e noites mal dormidas se o outro não está ali ao nosso lado, pronto para nos agarrar. Sexo e amor não são a mesma coisa, mas quando se fundem na mesma pessoa, é o caos. Não vale a pena tentar resistir, porque não conseguimos ganhar. É demasiado perfeito para resistir. Mais vale içar a bandeira branca, respirar fundo e confiar na sorte. Às vezes, ela está bem ali, do outro lado do medo, à espera de ordem para entrar. E já agora, ficar. Até que a morte nos separe.

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